Durante estes tempos de mudança forçada pela pandemia, tal como tantas outras entidades pelo mundo fora, também a Associação BioLiving teve de se adaptar. Nascido do confinamento no início de 2020, o projeto “Biodiversidade em Pantufas” teve como objetivo adaptar a comunicação científica e educação ambiental ao contexto pandémico.
Começou por ser um conjunto de desafios e questionários lançados nas redes sociais, de forma informal e interativa, abordando assuntos relacionados com a biodiversidade em Portugal, as alterações climáticas e a sustentabilidade. Durante várias semanas interagimos com centenas de pessoas que aderiram aos nossos desafios.
Quando iniciou o novo ano letivo, a BioLiving aliou-se ao Núcleo de Estudantes de Biologia da Universidade de Aveiro (NEB-AAUAv), com quem mantém uma parceria há vários anos, levando esta pequena iniciativa um passo mais além. No contexto em que vivemos os estudantes de Biologia viram as suas saídas de campo muito limitadas ou até mesmo canceladas pelo que quisemos, com o “Biodiversidade em Pantufas”, compensar de alguma forma essa lacuna e incentivá-los a conhecer a biodiversidade de Portugal, mesmo que de forma digital.
Durante pouco mais de um mês, desafiámos especialistas de várias áreas científicas a realizarem workshops de identificação de animais, organizados em grupos como Anfíbios de Portugal, com a Sara Ornelas; Morcegos de Portugal, com a Milene Matos; Cobras de Portugal, com a Davina Falcão; Aves de Rapina Noturnas, com o Ricardo Brandão; e Cetáceos da Costa Portuguesa, com a Bárbara Matos. Os cinco eventos foram um verdadeiro sucesso e contámos com uma média de 70 participantes por sessão. A junção de oradores bons comunicadores e participantes interessados conseguiu manter o público colado ao ecrã, criando-se um ambiente de partilha de conhecimentos e ideias muito interessante.
Qual a diferença entre ser venenoso e ser tóxico? Sabia que as fêmeas de morcego dão à luz de cabeça para baixo? Quais os mecanismos de defesa das cobras quando se sentem ameaçadas? Quais os maiores mitos associados às aves de rapina? Sabia que também em Portugal já se caçou cetáceos? Enquanto os cinco especialistas garantiram que ninguém saía da palestra sem conhecer os aspetos importantes para a identificação destes animais e o seu papel no mundo natural, os participantes levaram para casa muitas curiosidades.
Os comentários dos participantes foram também bastante positivos e há muita vontade para que o projeto se repita no próximo semestre. Um dos participantes afirmou que “estas palestras são importantes na divulgação de conhecimento, na divulgação da nossa biodiversidade e sua importância, na desmistificação de histórias e factos errados que muitas vezes dão uma conotação negativa a animais que, na verdade, só contribuem para o bom funcionamento dos nossos ecossistemas. (…) Assisti a todas, voltaria a assistir, e aqui fico eu à espera de mais algumas”.
Os resultados deste trabalho vêm mostrar que existe em nós espaço para o conhecimento da vida que está à nossa volta, e representa, para estes estudantes, uma oportunidade de conhecer melhor a biodiversidade do seu país sem abdicar da sua segurança – biodiversidade essa que pode muito bem ser o seu futuro objeto de estudo. O futuro dos próximos Biólogos Portugueses!
Joana Cardoso Pereira
Sofia Jervis